Obras da Praça Central de Treviso são entregues pelo Executivo
A Administração de Treviso inaugurou na tarde de sábado, dia 10, um monumento em homenagem ao centenário da participação de Benjamim Scussel na Primeira Guerra Mundial (1914/1918), o ato aconteceu na praça que leva seu nome. Além da homenagem, o Executivo entregou a revitalização parcial do local. As ações aconteceram em comemoração aos 26 anos de emancipação político-administrativa do município, celebrado na quinta-feira, dia 8.
O monumento possui duas placas encaminhadas à família Scussel pelo Governo Italiano. A primeira é de 1968, já a segunda, de 2018, trata-se do certificado de confirmação do título em recordação aos sacrifícios de guerra feito por todos os soldados italianos.
O neto de Benjamim Scussel, Júlio Scussel falou sobre as homenagens. “Para a família Scussel é uma honra muito grande ter a praça com seu nome, pois ele ajudou a manter a Itália livre e unida, Itália que hoje pode ser considerada como a nossa segunda pátria-mãe, a qual concedeu e ainda concede dupla cidadania a muitos descendentes de italianos que residem em Treviso e região”, disse.
A família também falou sobre a trajetória de Scussel e dos imigrantes que se estabeleceram no Brasil. “De alguma forma Benjamim também representa a fibra e a determinação dos imigrantes italianos que fizeram de tudo para desbravar as terras da região e se estabelecer aqui. Se hoje temos um lugar chamado Treviso, estabelecido como município, é por causa dos que vieram antes de nós”, finalizou.
Revitalização da Praça Cavaleiro Benjamim Scussel
As melhorias da Praça, que contemplam um parque infantil e colocação de calçamento, foram realizadas por meio de uma emenda parlamentar de R$ 100 mil destinada pela deputada Ada de Luca, contando com uma contrapartida de R$ 20 mil do Executivo de Treviso. O recurso parlamentar foi obtido em 2020 através do empenho dos vereadores do MDB.
O prefeito Valério Moretti agradeceu a presença dos descendentes de Benjamim Scussel para a entrega do monumento e parabenizou a trajetória da família no município. O chefe do Executivo ainda falou sobre os desafios e o trabalho realizado nos seis meses de governo.
“Estamos comprometidos em mudar a cara de Treviso. Todos sabem das dificuldades que a gente encontrou ao assumir a Prefeitura, mas com muito trabalho, superação e, principalmente, seriedade, Treviso vai para o lugar que merece, um lugar de desenvolvimento. Vamos cuidar das pessoas, cuidar das comunidades, cuidar bem da saúde, que já é referência na região. Estamos focados no bem-estar das pessoas.”
O próximo passo do Executivo é revitalizar o restante da Praça e seu entorno. Conforme o vice-prefeito, as obras realizadas este ano representam o empenho da Administração junto aos secretários e servidores municipais. Para Cimolim, com as melhorias na infraestrutura e mobilidade urbana, o setor turístico de Treviso será estimulado.
“É fundamental que a Praça seja repaginada, fique bonita e bem cuidada porque aqui será o cartão postal que reflete o espírito da nossa administração. Vamos dedicar muito carinho na Praça, seu entorno, na avenida e também nas comunidades.”
Estiveram presentes os secretários Ernany Moreti, Mauro Fernandes, Gladson Tasca, Sidinei Viola e Elaine Salvador Zeferino. Também participaram os vereadores Luciano Miotelli, Reginaldo Rizzati, Simoni Ruzza Ariatti e Zander Losso.
Por conta da pandemia de Covid-19, a celebração foi restrita às autoridades e familiares de Benjamim Scussel.
Conheça a trajetória de Benjamim Scussel
Benjamim Scussel, filho de João Scussel e Luiza Lazzaris Scussel, nasceu em 30 de maio 1896, na comunidade do Rio Jordão, hoje pertencente a Siderópolis, à época ambos pertenciam à Urussanga. Em 1914 rumou à Europa para combater na Primeira Guerra Mundial ao lado da Itália.
Benjamim foi engajado no Batalhão de Cadore (Battaglione di Cadore) no destacamento dos Alpinos para combate em alta montanha. Era um grupamento de elite do exército, no qual somente os soldados de bom desempenho nas chamadas táticas de guerra (tattiche di guerra) eram selecionados. O treinamento praticamente em ambiente de guerra incluía: manusear armas, atirar, técnicas de defesa, rastejamento, escalada com cordas, construção de escadas com corda, manuseio e cuidados de cordas, execução de nós, técnicas de içamento, descida de feridos, construção de padiolas, abertura de trincheiras, abertura de valas, proteção em neve, técnicas de bivaque em neve ou pedras, primeiros socorros, entre outras.
Ao longo da guerra Benjamim participou de muitos combates importantes, como a Memorável Campanha do Monte Grappa, Tomada do Monte Nero, Travessia do Rio Piave, a Retirada da Caporetto e a Campanha do Ataque Final, que culminou com a expulsão dos austríacos e término da guerra.
O momento mais tenso vivido por Benjamim durante a guerra foi o ataque ao Monte Nero, no qual recebeu a notícia da morte de seu pai, por meio de uma carta que chegara momentos antes do ataque acontecer. Sequer teve tempo de se ater ao fato. Estavam com os segundos contados pela iminência do arranque das tropas em direção ao pico do monte ocupado pelos austríacos.
Poucos metros após ter saído da trincheira e iniciado a corrida do avante, Benjamin Scussel sentiu uma fisgada em uma de suas pernas. Recebera dois tiros: um atravessou-lhe um pé e outro perfurou a perna na altura do joelho, por sorte passando por entre as articulações e os tendões posteriores, sem causar fraturas e maiores danos. Em cinco anos, por conta desses graves ferimentos, teve a chance de dormir duas noites em uma cama, apesar de ser de um hospital de campanha.
Para restabelecimento dos ferimentos, foi enviado temporariamente para a retaguarda, onde trabalhou na organização dos suprimentos e instalação dos sistemas de comunicação.
A batalha mais importante da qual ele participou foi A Retirada de Caporetto (Battaglia di Caporetto, ou Ritirata di Caporetto), na qual o Império Austro-húngaro rompeu as linhas italianas de defesa e ajudados pelos alemães conseguiram chegar próximos as cidades chaves no coração da Itália.
Na Batalha Final Benjamim também teve participação. Foi a batalha da Vitória, a qual foi alcançada na cidade de Vittorio Vêneto e, talvez, a mais cruel de todas. Nela Benjamim relatou ter visto as maiores atrocidades que se poderiam cometer em guerra.
Após o Armistício de 1918, Benjamim permaneceu em território italiano por mais dois anos para reconstrução. Primero o exército deu baixa aos soldados feridos, aos mais velhos ou casados.
Durante a guerra ele esteve em vários lugares, tanto em combate, como em deslocamentos, sendo eles: Belluno, Milano, Bergamo, Cortina D’ampezo, Rovigo, Bolzano, Merano, Val D’Aosta, Val Sugana, Trento, Trentino, Piemonte, Vitório Vêneto, Torino, Ravena, Firenze, Caporeto, Forno di Zoldo, Pisa, Rosá, Cadore, Pieve di Cadore, Tofane, Alto Adige, Brenta, Ferrara, Monte Nero, Monte Grappa, Monte Pasúbio, Verona, Friuli, Feltre, Vicenza, Monte Cervino, Monte Sperli, Dont, Fornesighe e Ágordo.
Retorno ao Brasil
Em 1921, Benjamim recebeu baixa definitiva do exército e viajou de volta ao Brasil e retornou à vida ‘normal’ de um agricultor. Continuou as atividades de seu pai na colônia do Rio Jordão. Casou-se com Carmela Doneda, nascida em Bergamo – Brembate de Sotto, Itália, emigrada para o Brasil com os pais.
Também morou em Treviso por algum tempo até conseguir algum recurso financeiro. Em seguida adquiriu um terreno na localidade de Rio Manin para onde mudou-se para recomeçar a vida. Na época já tinha três filhos pequenos: João, Alda e Raimundo.
Em 1930 vendeu o terreno, pretendendo mudar-se para o município de Dona Emma ou Londrina, mas diante da relutância da família de Carmelina, sua esposa, que não queria vê-la partir, Benjamin comprou um terreno na comunidade de Rio Pio, em Treviso, e decidiu se estabelecer novamente. Teve oitos filhos: João, Assunta, Raimundo, Alda, Irene, Maria, Bruno e Anita.
Passou o resto de sua vida na Comunidade do Rio Pio (Santa Cruz), vivendo como agricultor. Veio a falecer em Seis de Janeiro de 1970 no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Urussanga, por insuficiente renal.
Homenagem do Governo Italiano
Em 1968 Benjamim recebeu a homenagem de honra de Vittorio Veneto, com a honraria única de classe de Cavaleiro, conferida a todos que estiveram em combate pela Itália. A ordem foi estabelecida pelo Presidente da República e pelo ministro da defesa da Itália, por meio da lei 263, de 18 de março de 1968. A horaria veio acompanhada da medalha da cruz de ferro do exército italiano e uma medalha de ouro em comemoração ao cinquentenário da vitória.